Saúde de trabalhadores informais é tema de pesquisa coordenada por IFBA e UFBA no Brasil
PESQUISA
O campus Salvador do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA) são as parceiras brasileiras do estudo da entidade internacional Women in Informal Employment: Globalizing and Organizing (Wiego) (Mulheres no emprego informal: globalização e organização), que vai mapear nos próximos anos as condições de saúde de homens e mulheres que atuam no mercado informal de trabalho, a exemplo de entregadores/as, motoristas por aplicativo, domésticas/os e ambulantes.
Atualmente conduzido também na Índia, o trabalho está previsto para ser concluído em cerca de cinco anos. No Brasil, o projeto tem como coordenadores/as os/as pesquisadores/as do Núcleo de Tecnologia em Saúde (NTS) do campus Salvador do IFBA, Eduardo Marinho, e do Programa Integrado de Saúde Ambiental e do Trabalhador (Pisat) da UFBA, Yukari Mise. A pesquisa é globalmente liderada pela britânica Christy Adeola Braham, da Wiego, e tem como financiadora a Organização não governamental (ONG) Co-Impact.
Para apresentar e debater os primeiros resultados coletados entre setembro de 2024 e fevereiro de 2025, foi realizado nos dias 11 e 12 de março, no Auditório do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, o workshop Gênero, Interseccionalidade e Saúde no Trabalho Informal - Gisti. Na ocasião, os/as pesquisadores/as conversaram sobre a literatura disponível nessa temática e sobre o inquérito aplicado entre trabalhadores/as catadores de materiais recicláveis, vendedores/as ambulantes, profissionais da pesca artesanal e marisqueiras e trabalhadores/as em atividades econômicas domiciliares nas cidades de Salvador, Lauro de Freitas, Santo Amaro e Maragogipe.
Foram entrevistados 76 trabalhadores/as. Desse total, 85% eram mulheres, 89% negros (pretos + pardos), metade tinha menos de 46 anos, com renda mensal média de R$ 900. A maioria cursou o ensino médio (56%), autoavaliou a própria saúde entre muito ruim (4,7%), ruim (1,6%) e regular (48,4%), reportou dificuldades em acessar serviços públicos de atenção à saúde (59%) e 18% dos(as) trabalhadores(as) afirmaram ter sofrido acidente de trabalho no último ano.
Workshop e discussão sobre os primeiros resultados
A mesa de abertura foi formada pela diretora geral do campus Salvador, Luanda Kívia, pelo diretor do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, Luís Eugênio de Souza, pelo representante do Ministério da Saúde, Cristiano Miranda, pela coordenadora do projeto, Christy Braham, e pela representante do Coletivo Intersetorial de Trabalhadores em emprego informal, Edileuza Guimarães.
Para o coordenador Eduardo Marinho a integração entre as diversas instituições que participam dessa pesquisa e a forte participação da Wiego e de representantes dos trabalhadores informais tornam o projeto bastante robusto nas suas ações, com uma forte capilaridade tanto no estado da Bahia quanto no Brasil. “Precisamos dar visibilidade a esta força de trabalho, conduzida na sua maioria por mulheres e que atinge cerca de 40% da população economicamente ativa e ocupada no País”, destaca Marinho.
Durante sua participação no workshop, Christy Braham lembrou que “as organizações de trabalhadores/as no emprego informal que são membros de nossa rede têm desempenhado um papel de liderança na co-construção da agenda dessas oficinas e deste projeto mais amplo - criando espaço para amplificar as vozes dos trabalhadores e as realidades vividas de exclusão do direito à saúde e construindo um diálogo inclusivo com formuladores de políticas, pesquisadores e profissionais”, explica a pesquisadora britânica.
Também coordenadora no Brasil, Yukari Mise avaliou que foram dois dias de intensas discussões com o surgimento de muitas propostas para as próximas fases do projeto. Entre elas, Yukari enumera a realização de um inquérito nacional sobre a saúde e segurança dos trabalhadores e trabalhadoras informais. “É compromisso da academia auxiliar a gerar dados qualificados que ajudem a ecoar as vozes desses trabalhadores, pois se o dado não existe, é como se o problema não existisse”, afirmou a pesquisadora da UFBA.
No dia 13 de março, Christy Braham visitou a Cooperativa de Catadores e Agentes Ecológicos de Lauro de Freitas (Caelf), a Unidade de Saúde da Família do bairro da Liberdade e o Grupo de Pesquisa sobre Compósitos Poliméricos e Cerâmicos (GCPC) do IFBA, campus Salvador, liderado pela pesquisadora Mirtânia Leão, que está à frente do projeto "Tecnologia Social para Reciclagem Local de Plástico” em parceria com a UFBA.
A participação do IFBA e da UFBA é compartilhada de forma integral nesse projeto. Dele também participam as estudantes bolsistas Ananda Rossi, da Licenciatura em Geografia do campus Salvador, e Maria Luiza Romão, do curso de Ciências Biológicas da UFBA.
Organizações Participantes
Associação de Trabalhadores em Domicílio (Atemdo-SP)
Associação dos Remanescentes do Quilombo Porto da Pedra e Mutamba (BA)
Central Única dos Trabalhadores (CUT-Regional Bahia)
Conselho Pastoral dos Pescadores da Regional - BA/SE
Cooperativa de Catadores e Agentes Ecológicos de Lauro de Freitas (Caelf)
Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad)
Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR)
Sindicato dos Motoristas por Aplicativos do Rio Grande do Sul (SIMTRAPLIRS)
Sindicato dos Trabalhadores Autônomos por Aplicativos de Pernambuco (Seambape)
União Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Camelôs, Feirantes e Ambulantes do Brasil (Unicab)
Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest-Salvador)
Coordenação Geral de Vigilância em Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde
Diretoria de Vigilância e Atenção à Saúde do Trabalhador (Divast-BA)
Fundação Estatal Saúde da Família (Fesf-SUS)
Programa de Pós-graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho (PPGSAT-UFBA)
Programa Integrado de Saúde Ambiental e do Trabalhador (Pisat- ISC-UFBA)
Faculdade de Saúde Pública (USP)
Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem-UFMG)
*Henrique Soares é jornalista da área de comunicação do campus Salvador.