Fazendas Urbanas: oficina abordou impactos, desafios e oportunidades do cultivo de microverdes em Salvador
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) realizou, no dia 25 de outubro, a oficina “Fazendas Urbanas, impactos, desafios e oportunidades em Salvador - teoria e prática no cultivo de microverdes e seus sabores”, na Reitoria, em Salvador. O evento, com 4 horas de duração, contou com 40 participantes e teve atividades teóricas, práticas e distribuição de kits e degustação de microverdes.
O curso atraiu um público diversificado, incluindo estudantes, produtores, curiosos e pessoas de diferentes áreas de interesse. Foi ministrado por Aldinéia Damião e Brenda Mota, biólogas e membros da Instituição Cultiveae. “O curso de microverdes foi organizado em etapas teóricas e práticas, abordando desde o conceito básico de microverdes e seus benefícios até os desafios encontrados no cultivo. Os participantes puderam tirar dúvidas e até mesmo ‘colocar a mão na massa’ fazendo seu próprio cultivo tornando o aprendizado acessível e aplicável. Além disso, também tiveram a oportunidade de degustar uma variedade de microverdes”, explica a bióloga Aldinéia Damião.
Para os participantes a atividade foi enriquecedora. “Eu produzo Microverdes há um ano e meio, no modo convencional de cultivo, produzo para meu consumo e o excedente comercializo. Realizo oficinas teóricas e práticas do cultivo de Microverdes esporadicamente. Foi uma experiência excelente, bem organizada, agregadora para quem já cultiva e para quem pretende iniciar. Trouxe informações relevantes, teoria e prática de forma bem equilibrada e instigante. Ofereceu uma degustação dos Microverdes bem diversificada e promoveu um ambiente de aprendizagem favorável, acolhedor e democrático para os participantes”, conta a participante Carla Silva.
Para o participante, Mateus Fernandes, que é um dos gestores da Aldeia Casa da Fonte, um ponto de cultura de Aldeia Branca, a atividade vai impactar nas ações desenvolvidas na comunidade. “O curso foi excelente. Trouxe uma possibilidade de entendermos o universo dos microverdes, que na verdade não são micro, são imensas. A parte prática também foi muito boa. Nós plantamos no dia da aula e ele já está germinando. O curso trouxe o conhecimento da teoria, com questões de biologia, agroecologia, e já colocamos imediatamente em prática. Ganhamos um kit, que foi fundamental para colocarmos os conhecimentos em prática. Já plantamos aqui na nossa mini fazenda e estamos organizando para separar um espaço maior e no início do próximo ano queremos inserir a microverde nas nossas ações. Queremos torná-la uma prática transformadora. Iremos, com certeza, integrar os microverdes à nossa prática, às nossas atividades desenvolvidas no ponto de cultura”, explica Mateus Fernandes, que participou com Gildete Melo, também gestora da Aldeia Casa da Fonte. Os participantes atuam no ponto de cultura que trabalha com atividades culturais, como o reisado, e atividades ligadas ao meio ambiente, com turismo comunitário.
A oficina também contou com a participação do professor Ítalo Guedes, pesquisador da Embrapa Hortaliças, em Brasília. Ele realizou o encerramento com uma participação remota e falou das pesquisas de agricultura em ambiente controlado. “As pesquisas têm cerca de 5 anos, em agricultura em ambiente controlado, que abarcam as fazendas verticais, o cultivo de microverdes indoor – que muitas vezes é feito de forma doméstica. No entanto, mesmo feito em casa, em pequenos ambientes existe a possibilidade de tecnificar, visando soluções baratas, soluções que estão acessíveis ao pequeno produtor pra otimizar essa produção e pra muitas vezes aferir uma renda extra ou no mínimo uma solução mais saudável”, abordou o professor ao tratar das perspectivas na área.
Para Aldinéia Damião o crescimento do campo é algo a se configurar nos próximos anos. “Há uma perspectiva promissora para o consumo de microverdes em larga escala, impulsionada por tendências globais em direção a uma alimentação saudável e sustentável. Um dos fatores que podem contribuir para isso é o crescente interesse por alimentos saudáveis e nutritivos. Outro fator é a expansão das fazendas urbanas e verticais, por se tratar de um cultivo ideal para espaços pequenos e com produção contínua, visto que independem do clima da região”, explica a bióloga. “A difusão do cultivo de microverdes tem muita importância devido aos seus benefícios nutricionais e ambientais. Os microverdes possui alto valor nutricional, facilidade de cultivo e curto ciclo. São sustentáveis, pois consomem menos água e espaço em relação aos cultivos tradicionais. Além disso, aumenta a conscientização sobre alimentação saudável e estimula práticas de cultivo sustentável, principalmente em áreas urbanas”, explica Aldinéia Damião.
Também pensando em problemas como as mudanças climáticas, como os cultivos de microverdes podem ser realizados em áreas pequenas e controladas de maneira artificial, apontam para um dos nossos caminhos. “Os microverdes têm o potencial de desempenhar um papel importante no futuro da agricultura, especialmente em um contexto de mudanças climáticas. Isso porque, esses cultivos são adaptáveis, demandam menos espaço e recursos (como água e solo) e podem ser produzidos em ambientes controlados, o que os torna menos vulneráveis a eventos climáticos extremos. O grande desafio para se tornarem uma alternativa completa é que eles são ótimos para fornecer nutrientes em um pequeno espaço, mas não produzem grandes quantidades de calorias, o que é essencial para suprir a demanda de uma população em crescimento”, aponta Aldinéia Damião.
Microverdes*
De acordo com a Embrapa, Microverdes é um termo utilizado para nomear hortaliças, ervas aromáticas, condimentares e até mesmo espécies silvestres que são cultivadas e colhidas poucos dias após a semeadura. Elas diferem dos brotos por necessitarem de um meio de cultivo e luminosidade, enquanto na produção de brotos, ambos não se aplicam. Por serem cultivados na presença de luz e portanto, realizarem fotossíntese, os microverdes possuem sabor mais marcante e maior amplitude de colorações quando comparados aos brotos.
Microverdes e Educação
A atividade, idealizada por Eveln Seilhe Guerreiro, administradora e servidora da DGP/DEQUAV/COPSI, foi possível por conta do Edital nº 16/2024/Proex/IFBA, de 18 de julho de 2024, que trata da submissão de propostas de projetos de extensão pleiteantes de apoio institucional para o desenvolvimento de atividades de extensão nas unidades do IFBA. “A oficina foi estrutura em dois momentos, com parte teórica ministrada pela equipe da Cultiveae e participação especialíssima do professor ítalo Guedes da Embrapa, que é especialista na área de cultivo indoor. O projeto foi idealizado no intuito de disseminar a cultura do cultivo e consumo de microverdes”, explica. “O edital 16 foi fundamental para captação de recursos para realizar a oficina. Atingimos um bom público interno e externo superando as expectativas com o sucesso do evento”, comemora a servidora. “O tema surgiu na minha vida como um hobby e se tornou meu projeto de vida gerando inclusive proposta para o doutorado”.
A bióloga Aldinéia Damião ficou realizada com o resultado da oficina. “Nós produzimos microverdes para comercialização, onde nosso principal objetivo é suprir grande parte da demanda de restaurantes, buffets e hotéis de Salvador e região metropolitana. Mas além disso, desenvolvemos o projeto Educacional "Minha Hortinha", que utiliza kits de cultivos de microverdes como uma ferramenta educacional, enriquecendo o aprendizado de conteúdos e implementando iniciação científica para estudantes da educação infantil ao ensino médio. Realizamos também oficinas de cultivo de microverdes para pessoas que querem aprender cultivar microverdes”, explica. “Instituições como o IFBA podem ter um papel essencial na implementação e difusão do cultivo de microverdes, principalmente em virtude do compromisso com a educação, inovação e sustentabilidade. Podem contribuir de diversas formas, como por exemplo, desenvolver pesquisas sobre métodos eficientes de cultivo, nutrientes ideais para diferentes tipos de microverdes e estudos sobre seu valor nutricional e potencial de mercado. Podem também criar parcerias com escolas, cooperativas e até órgãos públicos para incentivar a produção de microverdes em hortas comunitárias ou urbanas, promovendo segurança alimentar e desenvolvimento sustentável em nível local. Além disso, pode permitir que os alunos desde cedo se familiarizem com práticas agrícolas sustentáveis e soluções inovadoras, promovendo a difusão desse conhecimento na sociedade e até mesmo estimulando o empreendedorismo”, conclui a bióloga.
O Edital nº 16/2024/Proex/IFBA
O Edital que permitiu a realização da atividade foi o que trata da submissão de propostas de projetos de extensão pleiteantes de apoio institucional para o desenvolvimento de atividades de extensão nas unidades do IFBA. O objetivo dele é apoiar atividades de extensão que estejam relacionadas à possibilidade de intervenção nas comunidades extra-campus em observação às demandas sociais com vistas a impactar positivamente estas comunidades levando em conta a situação socioeconômica atual e em observação às medidas sanitárias.
As ações do Edital nº 16/2024/Proex/IFBA devem possibilitar solucionar e/ou minimizar problemas, atender demandas sociais, contribuir para a efetivação da missão institucional no sentido de promover desenvolvimento local e inclusão social.
Fotos: Aldinéia Damião, arquivo pessoal; Carla Silva, arquivo pessoal; Eveln Seilhe, de Teresa Bahia (IFBA); demais fotos, de Mateus Fernandes (participante).
Matéria relacionada https://portal.ifba.edu.br/noticias/2024/ifba-esta-com-inscricoes-abertas-para-quatro-editais-de-extensao-fomento-2024