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Mulheres Mil impulsiona lideranças femininas e promove a igualdade de gênero

A Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec/MEC) recriou o Programa Nacional Mulheres Mil, para formação profissional e tecnológica, articulada com elevação de escolaridade e a inclusão socioprodutiva de mulheres em situação de vulnerabilidade social. As vagas são ofertadas nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs), nas redes estaduais e nos sistemas nacionais de aprendizagem, no âmbito do Pronatec.
publicado: 11/12/2023 17h28, última modificação: 15/12/2023 13h39

Na edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023, o tema da redação propôs reflexões sobre um problema presente na sociedade brasileira: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.

O assunto, sensível a boa parte da população, provocou debates, reflexões e pode desencadear  uma série de argumentos sobre as causas dessa invisibilidade e seus desdobramentos na sociedade, como, por exemplo, igualdade de gênero, jornada dupla, sobrecarga, lideranças femininas.

Algumas pesquisas recentes ajudam a dar um panorama sobre um desses recortes, como a ocupação das mulheres na liderança em seus ambientes profissionais, a partir de diferentes naturezas organizacionais. No estudo “Mercado de trabalho: igualdade de gênero e principais desafios”, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com entrevistas realizadas no mês de fevereiro, é apresentado que as mulheres ocupam 29% dos cargos de liderança nas indústrias do Brasil, enquanto homens representam 71%. Além disso, 85% das empresas não possuem uma área para lidar com o assunto de igualdade de gênero e 14% das empresas têm áreas específicas para tratar sobre igualdade de gênero, sendo que 5% contam com orçamento próprio.

No início de março, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, por meio de levantamento de dados sobre o serviço público realizado pelo Observatório de Pessoal, divulgou que houve um aumento para 33% na presença feminina em cargos de direção em fevereiro. Nesse mesmo mês, em 2019, as mulheres ocupavam 26% dos cargos de direção, apesar de serem 40% da força de trabalho do serviço público. Outro dado revela que, das mulheres em cargo de liderança no governo, 38% têm filhos menores de idade, sendo que, entre os homens, o percentual fica em 66%.

No mês de agosto, a pesquisa “Mulheres negras na liderança”, realizada pelo Pacto Global da ONU no Brasil em parceria com a 99jobs, revelou que 71% das empresas tem no máximo 10% das lideranças empresariais ocupadas por mulheres negras. Nas empresas em que trabalham, 60% delas são a única liderança negra de suas empresas e 49% das mulheres negras líderes já se sentiram mais à vontade ou com mais abertura quando seus chefes eram mulheres.

Nívea Cerqueira (Foto: Gilberto Amorim)

Na Reitoria do IFBA, as mulheres ocupam cerca de 64% dos cargos de gestão, enquanto os homens representam 36%, segundo informa a Pró–Reitoria de Extensão (Proex), liderada por uma mulher negra, Nívea Cerqueira, responsável pela gestão dos projetos e programas de extensão, incluindo o Programa Mulheres Mil. Nos altos cargos de gestão, a reitora Luzia Mota é uma mulher negra, e, entre os(as) cinco pró-reitores(as), quatro são autodeclarados(as) e heteroidentificados(as) como negros(as) (pretos/as ou pardos/as), dos quais 50% são mulheres e 50% homens

Os desafios para mudar esse cenário são muitos, como promover o debate na sociedade, a criação de projetos de lei e políticas públicas para enfrentamento a desigualdade de gênero, ou programas específicos de garantia de direitos e empoderamento das mulheres.

Programa Nacional Mulheres Mil 

Em meados de abril, a partir da Portaria nº 725, de 13 de abril de 2023, a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), do Ministério da Educação (MEC), recriou o Programa Nacional Mulheres Mil, para formação profissional e tecnológica, articulada com elevação de escolaridade e a inclusão socioprodutiva de mulheres em situação de vulnerabilidade social. Com a retomada, as vagas são ofertadas não somente nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs), mas nas redes estaduais e nos sistemas nacionais de aprendizagem, no âmbito do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). 

O Programa tem como principais diretrizes possibilitar o acesso à educação; contribuir para a redução de desigualdades sociais e econômicas de mulheres; promover a inclusão social; defender a igualdade de gênero; combater a violência contra a mulher; promover o acesso ao exercício da cidadania; e desenvolver estratégias para garantir o acesso das mulheres ao mundo do trabalho.

Os Institutos Federais dos estados de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima, Sergipe e a Escola Técnica Federal de Palmas ofertaram cursos de formação inicial e continuada e qualificação profissional às mulheres em situação de vulnerabilidade social, e seus conhecimento e experiências resultaram na metodologia Acesso, Permanência e Êxito. Essa metodologia privilegia temas como direitos e deveres das mulheres, empreendedorismo, economia solidária, saúde, elevação da autoestima, entre outros.

É importante contextualizar que o Mulheres Mil foi instituído nacionalmente por meio da Portaria nº 1.015, de 21 de julho de 2011, do Ministério da Educação (MEC), como resultado de uma iniciativa piloto criada pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec). Sua execução inicial, em fase piloto, aconteceu em 2007, por meio de um sistema de cooperação entre os governos brasileiro e canadense, representado pela Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional (Cida/ACDI) e a Associação do Colleges Comunitários do Canadá (ACCC). Os Institutos Federais dos estados de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima, Sergipe e a Escola Técnica Federal de Palmas ofertaram cursos de formação inicial e continuada e qualificação profissional às mulheres em situação de vulnerabilidade social, e seus conhecimento e experiências resultaram na metodologia Acesso, Permanência e Êxito. Essa metodologia privilegia temas como direitos e deveres das mulheres, empreendedorismo, economia solidária, saúde, elevação da autoestima, entre outros.

Vigna Nunes (Foto: acervo pessoal)
Sobre a metodologia brasileira, a coordenadora geral do Programa Mulheres Mil, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), Vigna Nunes Lima, destaca: “o Programa, a partir da Metodologia de Acesso, Permanência e Êxito (MAPE), já tem algumas sugestões de ações a serem realizadas com as mulheres estudantes, que visam garantir a qualidade do curso a ser feito e, sobretudo, o empoderamento delas. Podemos contextualizar o quanto a aquisição de conhecimentos acerca de saberes que elas já trazem - a exemplo das artesãs de Valença (BA) - pode fortalecer o arranjo socioprodutivo de uma comunidade e a geração de renda para muitas mulheres que, ou são mãe solo, ou são chefas de família. Do ponto de vista do empoderamento, o Programa assegura acesso à conhecimentos sobre Direitos da Mulher, Violência sobre a Mulher, Saúde, aliado a isso pretendemos desenvolver ações, por meio das parcerias, que deem acesso a esses direitos e que coloquem estas mulheres em outros contextos culturais e sociais, ampliando a sua participação cidadã”.

Alba Rodrigues (Foto: acervo pessoal)

 

Na gestão do programa no IFBA, a coordenadora geral conta com atuação de mais seis mulheres coordenadoras adjuntas que dão suporte ao programa nos campi: em Ilhéus, Mayana Leandra Souza dos Santos; em Irecê, Alba Valéria Neiva Rodrigues; em Lauro de Freitas, Geocivany Lima Cardoso; em Paulo Afonso, Renata Virgínia Lisboa; em Simões Filho, Valdeluce Nascimento Santos; e em Valença, Rita de Cássia Pereira Magalhães.

Em vista disso, a professora e coordenadora geral Vigna Nunes Lima destaca uma liderança voltada à “assegurar a metodologia do programa e seus objetivos, que é o de empoderar e qualificar mulheres, bem como estimular e construir um modelo de gestão a partir da atuação e da ótica feminina”

 

Rita Magalhães (Foto: acervo pessoal)

 

“Procuro construir minha liderança nos coletivos que participo, inclusive agora no Mulheres Mil, como forma de reafirmar o meu compromisso com as transformações sociais e respeito à dignidade humana”, afirma Alba Rodrigues.

Para Rita Magalhães, “Enquanto mulher, quanto mais mulheres estiverem emancipadas mais dignidade e respeito teremos a todas as mulheres”. Renata Virgínia Lisboa conta que: “[O] contato direto com várias realidades faz perceber minúcias e aprendizados que antes não observava, me trazendo mais empatia e vontade de acolher com respeito observando os limites de cada pessoa”.

 

 

 

Valdeluce Santos (Foto: acervo pessoal)

 

Para Valdeluce Nascimento Santos: “Pensar desde o acolhimento até a finalização do curso de que essas mulheres precisam se sentirem pertencentes neste lugar de empoderamento, que vai desde de estar numa escola pública, como [o] IFBA, que pode e deve ser ocupada por elas e os seus; empoderar de informações que tratem de direitos sociais, relações de gênero e raça, considerando as condições desiguais destas, que não por acaso são, em sua maioria, mulheres negras", diz, ao sublinhar que, "como é um projeto que estamos iniciando, temos planos de trazer mulheres com experiência empreendedora já na aula inaugural, organizar rodas de conversas com temas demandados por elas, convidar instituições da rede sócio assistencial para possibilitar o acesso à serviços de direitos sociais, dentre outras ações”.

Programa Mulheres Mil e Pronatec

Sueli Santos (Foto: acervo pessoal)

 

A partir de sua nacionalização, em 2011, o Programa Mulheres Mil passou a integrar o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), do Governo Federal. Segundo a coordenadora geral do Pronatec, no IFBA, Sueli dos Prazeres Santos, “na gestão do Pronatec, a maioria quase absoluta é de mulheres. Dessa forma, conseguimos um empoderamento que ajuda no enfrentamento dos desafios”.

Sueli conta atualmente com o apoio de mulheres para o desenvolvimento das atividades e projetos do Pronatec em alguns campi, como: em Paulo Afonso, a coordenadora pedagógica, Aurelina Fernanda de Andrade Morais; em Seabra, a coordenadora adjunta e gestão de pessoas, Suélia dos Santos Braga; e, em Simões Filho, a coordenadora adjunta de sistemas, Tatiana Ramos de Souza.

 

Tatiana Souza (Foto: acervo pessoal)

“Dentro da Coordenação Adjunta de Sistemas, inicialmente eu geria uma equipe de seis homens e isso me trouxe uma certa insegurança da forma como iria conduzir os trabalhos. O machismo estrutural traz isso para gente. A todo tempo nos questionamos da nossa capacidade de liderar com eficiência e nos cobramos sempre sermos as melhores em todos os aspectos. Dentro desse contexto, os principais desafios encontrados, primeiramente, foi ultrapassar as barreiras dos preconceitos históricos com relação ao papel da mulher na liderança de um grupo: ainda existe a ideia que só homens devem ficar em posições de destaque; depois o estilo de liderar: precisava encontrar uma forma que conjugasse as minhas características de dialogar e ouvir opiniões, com uma forma mais assertiva de conduzir a equipe para não transparecer a ideia [de] fragilidade ou insegurança; por último o desafio das cobranças familiares: ser mãe de filhos gêmeos e pequenos é por si só, desafiador. Estou a todo tempo me questionando se tenho tempo de qualidade com meus filhos, se consigo atender a atenção e cuidados que essa fase requer ou se estou deixando de lado minha vida pessoal com meu esposo por falta de tempo. Enfim, parte disso vem muito da cobrança da sociedade para com as mulheres. Precisamos ser super heroínas sempre”, relata Tatiana Souza.

 

Paula Mara (Foto: acervo pessoal)

Antes da atuação de Sueli na liderança do Programa, houve também a participação de Paula Mara Costa e Glauria Janaina dos Santos como coordenadoras, em 2019. De acordo com Paula Mara Costa: “...presenciei a mudança de pensamento de muitas mulheres, o programa modificou a vida de muitas mulheres, [...], muitas mulheres descobriram que queriam continuar estudando, que poderiam ser independentes e que podiam sair de uma vida de abuso”.

 

“Quero parabenizar a todas as gestoras do Programa Mulheres Mil e destacar a importância desse Programa para desenvolvimento e valorização das mulheres, enquanto autoras de sua própria história”, celebra Suélia Braga.

 

 

Da esq. para a direita: Glauria dos Santos, Suélia Braga e Renata Lisboa (Fotos: acervo pessoal)

Programa Mulheres Mil e Departamento de Relações Comunitárias

O Departamento de Relações Comunitárias (DRC), da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), é responsável, entre outras atribuições, pelos cursos de qualificação profissional e pela captação dos cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC), atuando na implementação do Programa Mulheres Mil nos campi IFBA.

Tâmara Rocha (Foto: acervo pessoal)
A chefe do departamento, Tâmara Rocha, faz um relato sobre o significado da educação, da criação de cenários prospectivos no mundo de trabalho e da valorização do potencial das mulheres participantes do Mulheres Mil: “Ao participar das aulas inaugurais do Programa nos campi Simões Filho e Lauro de Freitas, no dia 2 de outubro, ficou perceptível que o programa é a materialização de oportunidades para as mulheres participantes em situação de vulnerabilidade. Era quase palpável a empolgação delas, ávidas pelo novo, vislumbrando uma oportunidade de mudar de vida por meio de aprendizado. Acredito que elas tiveram uma maior consciência de que a formação profissional oferecida pelo programa pode abrir portas para possibilidades reais de colocação no mercado de trabalho. O Mulheres Mil reforça uma tendência das mais importantes na atualidade: a equalização de oportunidades profissionais entre homens e mulheres. É apenas o primeiro passo para que as participantes tenham acesso à educação visando incrementar o grau de escolaridade, culminando em novas possibilidades profissionais, que certamente farão toda a diferença em seu futuro”.

Fontes:

Confederação Nacional da Indústria

Ministério da Educação

Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos

Pacto Global da ONU no Brasil

Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica