Jornada Pedagógica Administrativa da Reitoria abre espaço para debates sobre ensino, pesquisa e extensão
Ao longo de quatro dias, de 7 a 10 de março, a comunidade do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) pôde discutir sobre Educação em Rede, durante a III Jornada Pedagógica Administrativa, realizada na da Reitoria do Instituto.
O evento, voltado principalmente a servidores(as), foi aberto também à comunidade externa, e trouxe discussões importantes sobre o fazer acadêmico, a formação do aluno e o papel da sociedade dentro da educação, com o tema central “Educação em Rede: Os caminhos da gestão sistêmica da Educação Profissional e Tecnológica”
A mesa de abertura, integralmente feminina, foi composta pela Luzia Mota, Reitora do IFBA; Carla Jardim, futura Diretora de Políticas e Regulação da Educação Profissional e Tecnológica (DPR), representando Getúlio Marques, secretário de Educação profissional e tecnológica; Andréa Maria Amazonas, diretora geral do campus Santo Amaro, representando o Colégio de Dirigentes; Priscila Uzeda , assessora de gabinete da Proen; e, Viviane Canela, aluna do curso de eventos do campus Salvador.
A abertura foi feita por Luzia, que saudou a todos os presentes e ressaltou a importância do evento e dos convidados, referências em suas áreas de atuação e em seguida passou a palavra para representante da Setec, que em seu discurso, também salientou a importância do evento e ressaltou o compromisso da atual gestão do MEC com a Educação. “As reitorias têm um papel bastante importante, mas muito diferente daquilo que constitui efetivamente uma instituição dessa natureza, que são as atividades de ensino, de pesquisa, de extensão. Então essa possibilidade de aproximar as pessoas, servidores que compõem a base de gestão do Instituto, com aquilo que se faz lá na ponta, nos campi, no laboratório, na sala de aula, no ginásio de esportes, isso é extremamente importante e deixará no Instituto Federal da Bahia um legado bem importante”, disse Carla
O novo momento foi celebrado. “A presença da Setec aqui simboliza um resgate de uma relação dialógica entre o Ministério da Educação e as instituições federais de ensino e também queremos reafirmar e o compromisso do Governo Lula, o compromisso do Ministério da Educação e o compromisso da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica com a educação, com a ciência e com a tecnologia, que foram tão duramente atacadas durante esses últimos 6 anos”, falou a representante da Setec.
Vladimir Safatle, professor da Universidade de São Paulo (USP), abriu a conferência com o tema “Educação para a construção da liberdade e da emancipação social”. Dentre as inúmeras questões trazidas, o filósofo levantou a questão do processo de formação acadêmica da América latina, de como o nosso sistema educacional foi implantado e pensado, de modo a deslegitimar os saberes locais e promover a cultura européia, e citou o exemplo da Universidade Nacional Maior de São Marcos, em Lima, Peru, primeira do continente, criada em 1551, em meio à colonização. “Por mais contraditório parecer um desses pontos foi a implementação de uma universidade no meio daquela guerra, não só cultural mas principalmente uma guerra efetiva e real de extermínio, ela (Universidade) falava não só uma forma de saber só uma forma de ver e essa forma de pensar… ‘Não é que vocês pensem mal, vocês estão errados, estão atrasados, são arcaicos, não conseguem resolver problemas, não estão dispostos ao trabalho, vocês são preguiçosos, lascivos, e é preciso educá-los, é preciso convertê-los”, exemplificou Safatle.
Como alerta, o professor falou dos discursos da extrema direita nacional, que apontam como responsáveis pela crise do Brasil, os professores de História, e não o sistema financeiro e bancário adotado, responsável pela concentração de renda.
A palestra do dia 7 de março, em destaque no período vespertino, foi “O Planejamento Estratégico da Administração Pública nas Instituições de Ensino", apresentada pelo professor Marcelo de Souza, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O docente falou sobre a importância de estratégias a serem adotados nos campi e a importância do trabalho colaborativo. “Estratégia está muito associada com a ideia de planejamento, então, a gente imagina como deve ser, e monta um conjunto de coisas para enfrentar algo. Gosto de fazer um paralelo com esportes coletivos. Toda a equipe monta uma estratégia para enfrentar a outra equipe. Mas, o jogo não é uma coisa estanque, ele é uma coisa dinâmica. Então, cada movimento que você faz, tem outro movimento do outro lado. Então, o jogo, ele vai ser construído em ações e reações”, disse.
Os desafios da (re)construção da Educação Profissional e Tecnológica, foi o tema abordado por Gustavo Henrique Moraes, coordenador-Geral de Estudos Educacionais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O pesquisador levantou questões importantes sobre a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Gustavo relatou que as discussões têm acontecido de modo parecido em todo o país. “A discussão é muito similar na Rede, a maior parte das discussões abrangem toda a Educação nacional, não só o espectro da Educação profissional e tecnológica. Algumas são específicas da Rede Federal, como a necessidade ou não de uma nova expansão, mas a questão do Ensino Médio, do financiamento são problemas que estão sendo levantados por todo o setor educacional é que merece especial atenção”.
Uma das palestras mais aguardadas aconteceu na quarta-feira (8) pela manhã. “O valor da Educação pública no Brasil: avanços e retrocessos das políticas educacionais nos últimos 10 anos” foi o tema abordado pelo professor da USP, Daniel Cara.
Para ele, a iniciativa do IFBA em realizar uma Jornada abrangente, é muito valiosa, pois repercute em todo o país. “O IFBA é uma instituição de muitos anos e de muita tradição, tem um grande legado de contribuição na Educação pública Brasileira. Puxar esse debate significa chamar a atenção, mobilizar não só a própria instituição a discutir a Educação pública, mas todo o Brasil também, porque certamente os debates que ocorrem aqui, as tomadas de decisão que ocorrem no IFBA, acabam reverberando para o país todo”, disse.
“Iniciar o ano letivo com uma reflexão muito forte sobre direito à Educação, sobre a função social da escola, sobre o papel do Instituto, e o que isso vai é trazer um contexto muito positivo e o início de um Governo Federal, para que o direito à Educação seja sempre seja uma centralidade dentro do Governo. Então o IFBA está de parabéns por promover essa iniciativa de debate, essa jornada pedagógica”, concluiu o palestrante.
Além das palestras, a Jornada ainda contou com painéis de discussões, lançamentos de livros, apresentações culturais como a do grupo Grupo Maracatu Ventos de Ouro e stands permanentes do Projeto TEIAS – Circuito de Economia Solidária, montada na praça da Reitoria.
Grupo Maracatu Ventos de Ouro
PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE
A estudante de doutorado do Instituto de Ciência da Informação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Eunice Santos, encontrou no evento a oportunidade de participar de palestras comandadas por importantes nomes no cenário local e nacional, como Malu Fontes, jornalista, e Roberto Amaral, ex-ministro da Ciência e Tecnologia durante o primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “É importante chamar atenção para a seleção dos entrevistados. O IFBA escolheu os melhores para composição de cada mesa. Todas que participei foram ricas em suas peculiaridades, e em seus temas. Palestrantes que entendem do assunto”, disse.
Eunice espera que o IFBA continue promovendo encontros que incluam pessoas que fazem parte da comunidade externa. “Eu peço encarecidamente ao IFBA que abra mais espaços nos eventos para a comunidade externa, porque não só eu estarei presente, mas também vou chamar muitos outros e outras para participarem. Esses encontros são de extrema importância. Nessas trocas, a gente aprende muito”, contou.
Entre idas e vindas nas salas de aula, Eliana Alcântara Lisboa, professora de Física no IFBA campus Salvador, conseguiu acompanhar alguns dos encontros promovidos pela jornada. Eliana destacou a palestra do professor Vladimir Safatle, da Universidade de São Paulo (USP), que teve como tema “Educação para a construção da liberdade e da emancipação social”. Para ela, o debate foi importante para reflexão do atual cenário, com a transição de governo. “Foi uma palestra que particularmente abriu os meus olhos para muitas coisas, e me mostrou que em alguns pontos eu estou numa linha coerente com o palestrante”, lembrou.
Eliana ainda avaliou positivamente a III Jornada Pedagógica Administrativa da Reitoria, e falou sobre a importância da socialização no espaço, uma vez que encontrou colegas de trabalhos de outros campi, como os(as) de Ilhéus e Eunápolis. “Avalio a jornada como extremamente necessária para a formação dos professores, dos técnicos administrativos e também dos estudantes”, finalizou.
Servidores(as) também tiveram espaço no penúltimo dia da jornada para a divulgação dos seus livros. Alguns dos nomes presentes na mesa foram: Celiana Maria dos Santos, Cacilda Ferreira dos Reis, Catiane Rocha Passos de Souza, Marijane de Oliveira Correia, Solange Maria de Souza Moura e Rui Carlos Mota. No site do evento, é possível conferir o resumo dos livros lançados no evento.
Projeto TEIAS – Circuito de Economia Solidária
O último dia de Jornada trouxe mais reflexões importantes para o IFBA. A primeira palestra da manhã trouxe a temática “O Trabalho como princípio educativo em tempos de Neoliberalismo”, com Acácia Kuenzer, e a segunda palestra foi sobre “Proteção e Privacidade dos Dados Pessoais” , com a professora do IFBA - campus Valença, Gracieth Mendes Valenzuela. A palestrante falou sobre a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, LGPD, aprovada em 2018 e em vigor desde 2020, e a necessidade de todas as instituições se adequarem à Lei, inclusive tendo uma pessoa atuando como Encarregado de Dados, e que deve manter à Instituição em conformidade com a Lei.
Explicou também sobre informações pessoais, dados que podem identificar alguém, e dados sensíveis, que são os que revelam origem racial ou étnica, convicções religiosas ou filosóficas, opiniões políticas, filiação sindical, questões genéticas, biométricas e sobre a saúde ou a vida sexual de uma pessoa, pontuou a responsabilidade de todos os servidores, independente do vínculo, serem responsáveis por resguardar os dados pessoais de todos, sendo por isso necessário que a Instituição assuma o compromisso com a Lei e disponibilize treinamentos constantes, pois é necessário o conhecimento de todos. É preciso promover treinamentos e a conscientização de todas as pessoas, desde quem faz o nosso cafezinho, o porteiro, até os mais altos cargos de gestão. Todos têm que entender, que se houver um papel no chão que tenha dados pessoais de alguém, aquilo é uma informação sigilosa, e precisa ser resguardada”, concluiu.
A III Jornada Pedagógica Administrativa foi transmitida ao vivo e todas as gravações estão disponíveis aqui.
A programação completa pode ser conferida no site do IFBA.
Por Gilberto Amorim e Iali Moradillo