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Gilberto Gil recebe título Doutor Honoris Causa na Reitoria do IFBA
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) concedeu ontem (14) a outorga do título de Doutor Honoris Causa ao artista e ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, no Auditório 2 de Julho, na Reitoria do IFBA, bairro do Canela.
A Cerimônia se iniciou com as apresentações artísticas dos Filhos de Gandhy, tendo inclusive a participação de Gil em uma das músicas, seguida pelo Coral Madrigal, do campus Vitória da Conquista e finalizou com a intervenção artística da atriz e aluna egressa do IFBA, Liz Novaes.
Em seguida, a mestre de cerimônia, a jornalista Rita Batista, convidou a mesa-banca, para a sua formação: Luzia Mota, a reitora do IFBA; Ângela Guimarães, Secretária de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi), representando o Governador do Estado Jerônimo Rodrigues; Marco Lucchesi, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, representando a Ministra da Cultura, Margareth Menezes; Daniele Canedo, coordenadora do Observatório da Economia Criativa da Bahia e professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); e Olympio José Trindade Serra, professor, antropólogo e amigo de Gil.
Após a composição da mesa, a Reitora declarou instalada a sessão solene de outorga do título de Doutor Honoris Causa a Gilberto Gil e o homenageado foi conduzido pela pró-reitora de extensão, Nivea Cerqueira, à mesa.
Foi dada a palavra aos membros da mesa, e em seguida a mestre de cerimônia contou um pouco da história de Gil e do IFBA, e como elas se entrelaçam ao longo dos anos. Em seguida, Luzia Mota, outorgou o grau de Doutor Honoris Causa a Gilberto Gil.
Em seu discurso, já como Doutor pelo IFBA, Gil disse que o objetivo maior do momento era reunir pessoas e agradeceu a concessão do título. “Para que se juntem as pessoas, os lavores das lavouras, ou louvores, aqui estamos juntos hoje para viver mais um desses momentos em que pessoas se reúnem em torno de seus múltiplos fazeres e afazeres para que se encontrem mais uma vez, uma instituição do labor educativo, da lavoura do conhecimento, esse Instituto que nos acolhe aqui hoje, junta alguns de seus membros e a mais alguns outros a seu redor, para mais um momento de louvor, e canto...’vou fazer uma louvação, louvação, louvação, do que deve ser louvado, ser louvado, ser louvado’.
Gilberto Gil continuou seu discurso: “Assim canta a canção, ao filho da terra que saiu por aí a semear a arte da canção e a colher desta arte a parte de estimo que passaram a dedicar, a esse filho chamam-no aqui hoje para prestar-lhe uma homenagem, concedem-no o título de Doutor e Honra ao seu labor de lavrador dos sons e das palavras e atribuem um valor a mais, como em seu caderno de poesias, mais um elo de validade e para a cidade anunciam porque o fazem e eu digo...é para juntar as pessoas que o fazem. É que Eu aqui hoje não sou mais que um mero pretexto para que se juntem mais uma vez as pessoas, aqui reproduzimos o ato da crença na civilidade, a crença no dever de alimentar o fogo do futuro, com a lenha do passado, aqui, é o tempo e o além do tempo, que é celebrado, obrigado, obrigado, infinitamente obrigado”, finalizou.
O discurso final foi realizado pela reitora do IFBA, que explicou que o título concedido, o primeiro dado pelo Instituto, é uma forma de homenagear as contribuições do artista às diversas áreas do conhecimento.
“Gil, nós sabemos que não lhe faltam títulos, não lhe faltam prêmios, não lhe faltam homenagens, todas as honrarias concedidas a você são plenas, de genuíno orgulho e contentamento, pela sua existência, pela sua obra, que é inatingível, incontível, inatingível, incabível e intitulável, ainda assim, conceder este título a você, primeiro desta natureza concedido pelo IFBA, aprovado por unanimidade pelo nosso Conselho Superior, é um jeito que encontramos para dizer, como olhares fãs, o quanto admiramos, o quanto nos orgulhamos das contribuições das várias áreas de conhecimento das práxis, neste sentido, esse diploma é sobre você”, falou a reitora Luzia Mota.
A reitora também explicou que, apesar de ser considerado uma homenagem, o diploma é também sobre melhorar a Instituição e além dela, toda a Rede Federal. “Mas o diploma é uma esquina com um duplo sentido, conta duas histórias: uma individual e a outra institucional, portanto, ao atribuir esse mérito a você, melhoramos o nosso próprio olhar enquanto unidade acadêmica, sobre nós mesmos e com isso inspiramos e orgulhamos milhares de estudantes, jovens e alunos que defendem cotidianamente os Institutos Federais no Brasil”.
“Neste sentido este diploma é sim sobre nós, sim, porque este diploma é concedido pelo IFBA, mas também é concedido pelos 38 Institutos Federais, dois Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefet), e pelo Colégio Pedro II, pelos quase 700 campi que formam a Rede Federal, espalhada por todo o Brasil”, continuou a Reitora.
“O IFBA rima Educação, Ciência, Tecnologia e Cultura, essa é uma clivagem importante com a obra de Gil, que reivindica a arte como irmã da Ciência, filhas de um Deus fugaz que faz num momento e no mesmo momento, desfaz. A Educação é assim, faz, desfaz e refaz a cada momento. Reivindicamos nos Institutos Federais uma Educação que cultive a potencialidade da nossa juventude nas diversas áreas, na Ciência, na Tecnologia, e da Cultura, reivindicamos uma formação humana, que rima com um projeto nacional popular que traduza a lógica do bem viver, tanto na sobrevivência do planeta, quando no enfrentamento das desigualdades sociais, foi assim estudando as implicações da Ciência e da Tecnologia na obra de Gilberto Gil que encontrei cerca de 23 mil citações do nome de Gil em artigos científicos, livros, teses e dissertações, parei...não procurei mais, Gil, se sinta acolhido pela nossa comunidade, agora você faz parte da nossa Instituição e nós estamos muito felizes com isso”, concluiu Luzia Mota.
Apesar de oficialmente dada por encerrada a cerimônia, Gil pediu a palavra para contar a todos que foi exatamente naquele palco*, que o artista se apresentou pela primeira vez, na década de 50.
“Aproveito a oportunidade para fazer um registro de natureza individual, mas em um certo sentido também de natureza histórica. Este lugar onde nós estamos aqui, sentados, nessa mesa, essa banca, esse auditório, onde nós recebemos essas queridas pessoas, esse ambiente, esse conjunto de ambiente, foi o primeiro lugar, em 1951 ou 1952, não posso ser muito preciso agora, mas de qualquer modo, esse foi o lugar, esse foi o palco onde pisei pela primeira vez. Eu era estudante aqui, tinha vindo em 1950 para 1951, tinha feito um concurso de admissão aqui, nesse ginásio, tinha feito o meu exame, e aqui já existia, providenciado pelos irmãos Maristas, que eram os gestores e professores daquela instituição, já havia um conjunto musical chamando Bando Alegre, que é encarregado em várias oportunidades festivas da escola, nesse colégio, encarregada de fazer apresentações, eu, já manifestando naquele momento um gosto muito agudo pela música, fui convidado a fazer parte do Bando Alegre e aqui, em uma oportunidade daquelas festivas, em que o Bando Alegre se apresentava para o colégio, eu fui chamado a subir ao palco e cantar... “eu sua casa tem o quadro de são Jorge,
Em toda casa tem um quadro de São Jorge
Em toda casa onde o santo é protetor
Num barracão, num bangalô de gente nobre
Há sempre um quadro desse santo Salvador...”
O cantor continuou: “Eu confesso que é porque é um sentimento que guardo até hoje, mesmo depois de tantos, centenas e milhares de vezes em que subo, subi aos palcos, guardo ainda o sentimento que me foi marcante naquele momento, porque eu, como quase aconteceu agora, de novo, me esqueci da letra.
Essa emoção, essa dificuldade emocional, tive que vivenciar naquele momento iniciático da minha vida, é uma coisa que carrego até hoje, para todos os lugares do mundo em que me apresento, sempre essa emoção, profunda, se repete enfim, esse encantamento, esse alumbramento se repete na minha vida, então era só isso pra dizer:
Esse lugar aqui é um pouco responsável pelo artista que eu me tornei”, relatou, emocionado. Após a fala do Doutor do IFBA, a cerimônia finalizou com a apresentação da cantora Matilde Charles.
A outorga do título, inicialmente, aconteceria no dia 7 de fevereiro, no Teatro Castro Alves (TCA), mas devido ao incêndio que atingiu o teto do local, o evento precisou ser adiado. O Auditório 2 de Julho, abrigou 300 pessoas (capacidade máxima), entre autoridades, servidores e estudantes. Todo o evento foi gravado e está disponível no Youtube da TV IFBA.
* o prédio da reitoria do IFBA é o mesmo local onde funcionou o antigo Colégio Nossa Senhora da Vitória – Marista, onde Gil estudou. Em 2019 a construção foi tombada como patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC).
*Fotos: Gilberto Amorim
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