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Dia do Servidor Público: orgulho, memórias e reflexões sobre o ofício

Servidoras (es) do IFBA comentam a data, contam suas vivências no serviço público e apontam desafios da categoria no cenário atual.*
por Helen Sampaio publicado: 28/10/2021 19h51, última modificação: 28/10/2021 21h01

Hoje, dia 28 de outubro, é o Dia do Servidor Público, estabelecido pelo artigo 236, da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 - que trata sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. A cada ano, a data comemorada por servidores públicos federais, estaduais e municipais remonta a uma série de discussões sobre a função e importância do servidor público para a sociedade.

Para obter respostas sobre o significado da data nos dias atuais e a importância desses profissionais, conversamos com servidores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) que dedicam ou dedicaram suas vidas por anos à instituição e ao serviço público.

Essa reportagem é uma homenagem a esses profissionais que fazem parte da história da instituição!

Responsabilidade e comprometimento com a transformação da sociedade

Viviane Góes, 46 anos, é professora no ensino de Informática a alunos dos cursos integrados do campus Salvador, com atuação ainda nos cursos subsequentes e na licenciatura de matemática. Ingressou no IFBA em 2005 e atualmente está lotada no Departamento Acadêmico de Computação da unidade.

Para ela, servidora (o) pública (o) é toda (o) aquela (e) cidadã (o) “que exerce seu labor em prol de um retorno digno e útil para a comunidade na qual está inserida (o), seja em qualquer âmbito ou área de atuação. É de fundamental importância a sua contribuição para o desenvolvimento social, pois o seu trabalho exige responsabilidade e comprometimento com a transformação e crescimento da sociedade”, considera.

Antes do IFBA, a professora atuou na Escola Agrotécnica Federal de Senhor do Bomfim, como professora substituta e na Escola Agrotécnica Federal de Santa Inês, como docente efetiva. Hoje, ambas as escolas, pertencem ao Instituto Federal Baiano (IF Baiano).

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Viviane em atividade com estudantes, antes da pandemia.

Perguntada sobre o motivo de ingressar no serviço público, Viviane diz: “Antes pensava em estabilidade, segurança financeira, satisfação pessoal, tranquilidade, valorização do trabalho, contribuição para o bem social, garantia de aposentadoria digna, entre outros. No cenário atual, tudo está bastante diferente, não se fala mais em estabilidade, em reconhecimento pelo trabalho prestado à sociedade, houve mudança do tempo para aposentadoria e muitas outras mudanças contrárias à satisfação plena do (a) servidor (a)”, ressalta.

Nesse cenário de desvalorização do serviço público, a profissional aponta discussões importantes para a categoria, em específico, na área da Educação. “Como vivemos numa sociedade extremamente capitalista, os profissionais da área de Educação não são vistos pelos governantes como promovedores de lucros para a nação, e sim como dispendiosos para os cofres públicos. Porém, em contrapartida, é gratificante ver o desenvolvimento de nossos alunos e sua inserção no mercado de trabalho, verificar de forma concreta o resultado de nosso trabalho quando nos deparamos com a transformação social movida através da Educação. É o retorno do nosso trabalho, é a possibilidade de oportunizar jovens ao acesso à educação, e através desse instrumento vislumbrar a concretização de sonhos, de promoção de crescimento a nível pessoal, intelectual, social, financeiro e ter a perspectiva de mudar o mundo para melhor. A Educação muda vidas, o conhecimento transforma”, complementa.

Nesse sentido, a docente faz uma retrospectiva de experiências marcantes nesses anos de serviço público, considerando o papel transformador da (o) professora (o) na sociedade e sua responsabilidade na Educação. "O que me marca muito é o retorno que tenho de alguns alunos, fico grata quando me contam que eu contribuí de alguma forma com sua experiência acadêmica, pois é um reconhecimento do trabalho prestado. Além disso, é muito bom saber sobre as suas conquistas, crescimento profissional e sucesso de alguns alunos egressos. Fica registrado que nosso trabalho é desafiador, mas também bastante compensatório, com sensação de missão cumprida na maioria das vezes., conta.

Viviane acredita que comemorar o Dia do servidor é “um ato de resistência nesse momento de crise social, econômica e política. Além disso, não devemos perder a esperança de que o cenário poderá mudar e que nós, servidores públicos, assim como a sociedade brasileira, voltará a ter perspectiva de crescimento e dignidade nesse país”, afirma. Para ela, mais respeito enquanto cidadãos, mais justiça e reconhecimento enquanto trabalhadores que auxiliam no desenvolvimento da nação são os desafios ainda impostos à categoria. 

Forma democrática de acesso ao trabalho

Assistente em Administração, Leda Xavier de Oliveira, 54 anos, ingressou na Divisão de Comunicação do campus Salvador (Dicom), em 1995. Desde então, é responsável por algumas das funções relacionadas à comunicação do IFBA com seus públicos. Para ela, ser servidor público é servir a quem busca atendimento, a quem precisa e a quem solicita informação, esta devendo ser, em seu ponto de vista, sempre a mais correta possível e dada com muita presteza.

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Leda Xavier é assistente de administração no campus Salvador

“No cumprimento de sua função, o servidor precisa e deve, sobretudo, ser acessível, educado, disponível a quem solicita seus serviços, mas sem nunca abrir mão da crítica e autocrítica que norteiam, tanto a execução do seu trabalho, quanto interações decorrentes desta lida. Eu acrescento ainda, neste momento, em que vivemos uma intensa crise dos valores, que o servidor público deve zelar mais do que nunca pelo comportamento ético, honesto, valorizando as relações  com os colegas (terceirizados, técnicos administrativos, discentes e docentes),  que mais do que nunca precisam se unir em um só propósito: zelar pela educação, pela democracia, pela diversidade e tolerância, talvez mais hoje do que nunca, principalmente porque já sabemos como começar!”, reitera. 

Com experiência anterior ao IFBA na iniciativa privada, Leda acredita que sempre será relevante ingressar no serviço público, pois se trata, segundo a profissional, de uma forma democrática de acesso ao trabalho, em que é estabelecida a  livre concorrência, através de concurso público.  “O fato de eu ser negra, mulher e de origem humilde já diz muito sobre concurso público. Estou aqui, apesar, por exemplo, das barreiras criadas pelos preconceitos raciais e pelos preconceitos relacionados à pobreza, tão institucionalizados e provenientes da escravidão deste país. A imensa dificuldade que tive em conseguir o primeiro emprego formal e as dificuldades e preconceitos que enfrentei  foram terríveis. Além disso, caso eu não fosse funcionária pública, talvez eu não pudesse dar minha opinião com o grau de franqueza que estou impondo aqui. Certamente, a liberdade e a tranquilidade com que digo o que penso não seria a mesma. É bem possível que a corrupção e os assédios ainda fossem maiores do que são pelo Brasil afora, caso não tivéssemos, por exemplo, a estabilidade no trabalho. Vale ressaltar que a  estabilidade tem que ser assegurada juntamente com a eficiência, a legalidade e a impessoalidade da gestão da coisa pública. Uma coisa não  exclui a outra!”, declara.

Para Leda, atuar na área da Educação é ocupar um espaço onde a livre expressão de pensamento tem o dever e a obrigação de imperar. “O lugar da educação de qualidade deve ser o mesmo da empatia, do senso crítico e autocrítico, que são  fundamentais para fortalecer a democracia. E todos nós ganhamos com isto!”, conclui.

A servidora que também foi estudante do curso de Química, concluído em 1991, acredita que seu papel na instituição, assim como o dos demais deve ser torneado também pela empatia. “Como servidores, temos muito o que transformar nas relações de trabalho do IFBA, assim como funcionários do serviço público de outras instituições. A força de uma instituição está na valorização das partes que fazem o conjunto da obra.  Todos temos o mesmo peso e a mesma medida no processo educacional. Cada servidor público, cada terceirizado é parte de um todo!”, ratifica.   

Garantia do atendimento aos direitos constitucionais dos cidadãos

Antônio Jorge Duplat, 67 anos, ingressou no IFBA em 1973. É professor lotado no Departamento de Eletrotécnica e chefe do Departamento Acadêmico de Eletrotécnica, Ensino Técnico Profissionalizante, no campus Salvador.

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Antônio Jorge Duplat é professor no campus Salvador

O IFBA foi a primeira instituição na qual o professor atuou como servidor público, tendo tido uma passagem curta pelo antigo CETEBA (Centro de Educação Técnica da Bahia), que deu lugar à Universidade do Estado da Bahia (Uneb). “Ser servidor público significa exercer uma atividade profissional voltada ao atendimento de direitos demandados pela sociedade e que são deveres do Estado. A importância se caracteriza na garantia do atendimento aos direitos constitucionais dos cidadãos como fruto de seu trabalho”, define.

Seu ingresso no serviço público, ele conta, se deu como um jovem recém-formado em Eletrotécnica e em decorrência da “descoberta de uma vocação para a área de ensino associada com uma oportunidade decorrente de uma reestruturação e ampliação em que passava a Escola Técnica Federal da Bahia (ETFBa), e que priorizava os alunos recém-formados escolhidos pelo desempenho escolar e envolvimento em atividades da Instituição como bolsistas ou voluntários”. Motivos que ele ainda considera relevantes no atual cenário.

Sobre a atuação na área de Educação, ele considera: “O servidor público em Educação lida com os sentimentos, aspirações, emoções, expectativas e esperanças, não só diretamente do público que atende, mas também de sua família”. E nessa experiência de anos dedicados ao ensino no IFBA, Duplat coleciona momentos importantes para a sua história e a da instituição, entre eles, a construção e consolidação dos ambientes de aulas práticas (laboratórios) do curso de Eletrotécnica, compartilhada com colegas que ingressaram à época e que, em sua maioria, já estão aposentados.

“Destaco a experiência de ter iniciado a vida profissional ao lado dos professores Clemente Antônio de Brito Neto e Raul Varela Seixas, referências para os jovens que iniciavam na "Escola". Outra experiência marcante foi a implantação, em 1974, do curso de instrumentação industrial (hoje de automação), tendo sido deslocado naquela oportunidade para cursos e estágios na RLAM e Polo Petroquímico, junto com mais dois colegas; e com o conhecimento técnico adquirido eu e o colega Antônio Matos fomos os primeiros professores desse novo curso, formando a primeira turma, da qual alunos concluintes ingressaram para serem professores desse curso, como o professor Arleno José de Jesus”.

Com tantas histórias e demonstrando a satisfação de tê-las, o professor crê que ainda há significado em comemorar o Dia do Servidor nesse momento no Brasil: “Se olharmos através do prisma do atual Governo Federal, nada temos a comemorar ou a se envaidecer. Entretanto, através do prisma do Estado brasileiro e da nossa Constituição Cidadã, devemos comemorar sim porque fazer parte do conjunto de cidadãos que trabalham para promover a cidadania e preservar o Estado Democrático de Direito nos envaidece e muito. Está aí a atuação dos servidores públicos do SUS nesses tempos de pandemia”, argumenta.

Contudo, para Duplat, os desafios sempre existirão para a categoria. “A energia é conservativa, mas o mundo não. O mundo se transforma, os tempos mudam, novos valores e necessidades se estabelecem, evoluímos tecnologicamente, socialmente e também do ponto de vista moral, e novas relações se desenvolvem trazendo novas demandas”, reflete.

Questão de honra e retribuição

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Gina é professora aposentada do IFBA

Gina Marocci, 62 anos, integra o grupo de servidoras (es) aposentadas (os) do IFBA. Quando servidora ativa,  atuou no campus Salvador como professora titular, como chefe do Departamento de Ciências Aplicadas (2000-2004), representante docente no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe), coordenadora do curso técnico em Edificações, coordenadora dos Trabalhos de Conclusão Curso do Departamento de Construção Civil, além de pesquisadora na área de história da cidade e do urbanismo e orientadora de diversos TCC no nível técnico.

A sua história de 38 anos contabilizados com o serviço público iniciou quando ainda era estudante da Universidade Federal de Bahia (UFBA), após cursar o ginásio e o científico em colégios públicos. “Tomei a decisão de dar um retorno a quem pagava meus estudos, ou seja, a sociedade brasileira. Portanto, para mim, ser servidor público é uma questão de honra e retribuição. Ser servidor público é estar a serviço da sociedade brasileira para atender as suas necessidades primordiais, sendo as mais importantes a educação, a saúde, a justiça e a segurança. Nós, servidores, estamos em postos estratégicos que podem promover o bem-estar social aos brasileiros e não podemos nos esquecer jamais disso”, afirma Gina.

Aposentada desde o mês de fevereiro de 2021, Gina conta que ingressou no IFBA, em 1992, quando a instituição ainda era conhecida como Escola Técnica Federal da Bahia, após uma passagem de dez anos no Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), onde atuou como arquiteta.

“Após atuar com a proteção do patrimônio artístico e cultural percebi que não adiantava tombar monumentos históricos sem promover uma educação para o patrimônio, então, fiz o concurso público para uma instituição reconhecidamente séria, com uma história de sucesso, a ETFBa, e nela atuei por 28 anos. Acredito - e a pandemia de Covid-19 escancarou a desigualdade social existente no Brasil - que o serviço público é fundamental para que os cidadãos brasileiros possam ter acesso aos seus direitos constitucionais”, pondera a professora.

Sobre a especificidade de atuar na área da Educação, Gina avalia ser ainda maior a responsabilidade da (o) servidora (o) público (a) porque ela (e) “lida diariamente com jovens, adultos e suas famílias. É um contato mais prolongado e próximo, e exige um cuidado maior, e uma firme postura ética, principalmente do educador, pois pode-se causar danos emocionais muito graves aos mais jovens”.

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Gina com colegas servidores no Departamento Acadêmico de Construção Civil, campus Salvador.

Entre as experiências que ficarão marcadas em sua memória, Gina destaca projetos e atividades desempenhadas nas duas áreas de atuação. “Como arquiteta do IPAC, o estudo, o cadastramento e a elaboração das pranchas de desenho, bem como, a elaboração dos processos de tombamento de edificações na Bahia. A paixão pela pesquisa, que me levou ao mestrado e ao doutoramento em arquitetura e urbanismo. No IFBA, crescer como profissional, aprender a ser professora, participar da elaboração dos projetos pedagógicos dos cursos técnicos e estar como jovens e adultos, colegas de profissão e servidores, enfim, participar de uma comunidade acadêmica”, recorda.

Para Gina, no Dia do Servidor a comemoração deve estar em torno da luta diária para termos um serviço público de qualidade. Entre os desafios a serem enfrentados pela categoria, a professora é categórica: “lutar pela manutenção do concurso para ingresso no serviço público a fim de que ele não se torne um cabide de emprego para os políticos”.

CAIXA DE MENSAGENS

As (o) entrevistadas (o) deixam mensagens para as (os) servidoras (es) públicas (os) ou interessadas (os) em ingressar no serviço público.

"A sociedade precisa de renovação no serviço público. Alguns ciclos se fecham e outros recomeçam constantemente. Seu trabalho é de fundamental importância para a transformação social e consequentemente para o crescimento e sucesso do país. Seja perseverante e acredite que o mundo pode mudar para melhor". (Viviane Góes)

“A honestidade é a semente da igualdade que a sociedade precisa atingir. Temos que nos livrar da herança da escravidão, que é a adoração aos privilégios.  Temos esta responsabilidade como funcionários públicos e cristãos”. (Leda Xavier)

“O servidor público é antes de tudo um trabalhador e um profissional da sua área de conhecimento, portanto, exerça o seu trabalho com a competência e a ética da formação profissional que conquistou e nunca esquecendo que todo aquele que requer os seus serviços é também um cidadão e estará exercendo um direito constitucional”. (Antônio Jorge Duplat)

 “Parabéns! Vocês fazem parte de um grupo seleto, honrado e importante e que pode ajudar nosso país a ter mais justiça social”. (Gina Marocci)

 

*A reportagem buscou ouvir servidores ativos e aposentados, de diferentes unidades do IFBA, etnias e gêneros, entretanto, problemas de ordem técnica com os contatos impediram maior diversidade à produção.