Polo de Inovação do IFBA completa quatro anos; projeto da área de saúde representou o Brasil internacionalmente e está a caminho da patente
Neste mês de setembro, o Polo de Inovação do IFBA completou quatro anos de existência. Localizado no Parque Tecnológico da Bahia, o Polo integra o seleto rol das nove unidades especiais da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, em todo o Brasil, e tem por finalidade atender às demandas das cadeias produtivas em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) e formação profissional, além de prestar serviços tecnológicos para “setores de base tecnológica”.
“Nesses primeiros quatro anos o Polo desenvolveu expertise significativa na área de saúde”, afirma o pró-reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação, Jancarlos Lapa. Ele se refere ao fato de que, nesse quadriênio, os trabalhos desenvolvidos por pesquisadores(as), servidores(as) e estudantes no Polo de Inovação têm resultado em soluções tecnológicas inovadoras voltados ao setor de saúde, mas também aos segmentos da indústria e da regulação sanitária.
A infraestrutura tecnológica e a expertise da equipe que compõem a unidade são pilares fundamentais para o êxito dos projetos e pesquisas desenvolvidos, que têm como foco produzir soluções inovadoras para aumentar a efetividade de diagnósticos e terapias que possibilitem a otimização do gerenciamento dos riscos inerentes às práticas de saúde.
O Polo de Inovação é vinculado à Reitoria do IFBA, mas não constitui uma unidade de ensino como um campus. A unidade conta com uma equipe multidisciplinar formada por engenheiros, físicos, fisioterapeutas, especialistas em diversos campos da informática, entre outros profissionais, e uma estrutura que inclui laboratórios “equipados para o desenvolvimento de novos equipamentos, dispositivos e software de uso em saúde, serviços de ensaios, calibração e consultoria, além da realização de prototipagem mecânica e eletrônica”, como descrito no site do Polo.
Além disso, a unidade é credenciada pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) “na área de equipamentos médicos, seus dispositivos e acessórios, desenvolvendo inovações para a indústria de base mecânica, eletrônica e de materiais do Complexo Industrial de Saúde”, como descreve o site da unidade. Tal credencial habilita o Polo a atuar em pesquisa, desenvolvimento e inovação voltados para o setor industrial nacional, na área de equipamentos médicos para uso na área de saúde. Além disso, o Polo de Inovação do IFBA tem “acordo preliminar de cooperação” com o Centro de Excelência em Dispositivos Médicos do Instituto Politécnico do Porto (NORTEXCEL2020), “projeto semelhante ao Polo de Inovação, apoiado pela União Europeia”.
“A Embrapii tem alcançado êxito na modelagem institucional de projetos cooperativos em âmbito pré-competitivo e nós somos parte dessa conquista porque atuamos nessa rede”, declara o diretor-geral pro tempore do Polo, professor Juliano Lopes (foto acima). Ele destaca dois aspectos sobre a atuação do Polo no âmbito dessa rede. O primeiro diz respeito ao fato de, “segundo a própria Embrapii”, o setor de saúde, precisa ser mais bem amparado no seu portfólio de investimentos. “Menos de um terço das unidades da Embrapii trabalha com projetos na área de saúde [o Polo de Inovação é um deles], enquanto somente no setor de tecnologia aplicada à medicina, existem quase 700 instituições não enquadradas como micro ou pequenas empresas e que possuem ativos de propriedade intelectual”.
Juliano sublinha também que o Polo de Inovação apoia alunos e pesquisadores que produzem conhecimento, desenvolvem pesquisa tecnológica aplicada e que “enfrentam dificuldades do processo de registro dos ativos de PI [Propriedade Intelectual]” oriundos desses projetos. “Nós podemos ajudar essas instituições, sobretudo no pós-pandemia que é uma outra janela de oportunidades”, afirma. Segundo ele, há também a possibilidade de “aumentar os pedidos de depósito de proteção de propriedade intelectual, tanto no Brasil como nos escritórios internacionais”.
SIMULADOR DE PATOLOGIAS CARDÍACAS: RUMO À PATENTE
A reitora do IFBA, Luzia Mota (à dir),
em visita ao Polo de Inovação,
assiste à apresentação sobre o simulador de patologias cardíacas
Um dos projetos desenvolvidos no Polo de Inovação, que está em vias de obter patente, é um equipamento em formato de um tórax humano e cabeça, que simula a atividade elétrica do coração, e possibilita o treinamento e a formação de profissionais da área de saúde.
O equipamento é programável e “pode reproduzir 20 tipos de ondas de Eletrocardiograma, uma normal e 19 patológicas”, detalha o professor e pesquisador Josemir Alexandrino, que coordenou o projeto do simulador. Segundo ele, o equipamento permite também que o(a) estudante realize o diagnóstico e tratamento simulado, com administração de medicamentos e manobras clínicas, tais como, compressão cardíaca (popularmente denominada de massagem cardíaca) e terapia com choque (desfibrilação e cardioversão).
O simulador é dotado de sensores que permitem exibir parâmetros utilizados para avaliar se os procedimentos foram corretamente aplicados. Josemir conta que o projeto foi desenvolvido por uma equipe multidisciplinar, que incluiu um médico especialista em cardiologia, engenheiros, técnicos e estudantes das áreas de eletrônica, mecânica e tecnologia da informação.
“Para termos uma ideia da dimensão social, basta dizer que em algumas instituições que possuem simuladores semelhantes a este, em função do alto custo dos simuladores importados, o que leva ao cuidado excessivo, os alunos têm dificuldade de acesso pleno a estes simuladores. Espera-se que esse protótipo dê origem a um produto nacional de custo expressivamente menor. Com isso, os alunos e profissionais de saúde terão uma melhoria na sua formação/treinamento, o que tem impacto direto na qualidade dos serviços de saúde prestados à população em geral”, diz Josemir Alexandrino.
Apresentação na “Tenda Tecnológica – 42ª Reditec”. Búzios, 2018. Tamires Pereira, aluna do Curso de Graduação em Engenharia Mecânica (à época), e o professor Josemir Alexandrino. No centro, o simulador (na parte inferior), interligado com um monitor cardíaco mais acima. O trabalho e mais outros cinco foram premiados pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) do Ministério da Educação (MEC) e foram expostos nos estandes da Rede Federal no Congresso da Federação Mundial de Colleges e Politécnicos (WFCP, na sigla em inglês), que reuniu líderes da educação profissional de todo o mundo em Melborne, na Austrália, de 8 a 10 de outubro de 2018. Atualmente, Tamires é aluna especial do mestrado PPGESP.
Para que o protótipo venha a ser tornar o produto nacional de custo “expressivamente” mais acessível, há um percurso científico e burocrático a ser percorrido. “Ainda não temos a patente. O que fizemos foi o depósito da patente. Até obter a patente é um longo caminho, ainda mais no Brasil. Isso passa por várias etapas de avaliação. Após o processo de avaliação, que visa a saber se tem inventividade e inovação, o INPI [Instituto Nacional de Propriedade Industrial] concede a patente”, resume o professor Josemir Alexandrino, que coordenou da equipe que desenvolveu o protótipo do simulador. Ele ressalta, entretanto, que o desenvolvimento de projetos como esse traz avanços e ganhos imediatos: geram conhecimentos e know how em várias áreas de competência, propiciando o aprimoramento profissional dos(as) pesquisadores(as) e estudantes.
“Do ponto de vista tecnológico, tem uma importância até ao nível nacional, tendo em vista que, via de regra, o Brasil é tecnologicamente dependente, obrigando-se a importar muitos produtos de alta complexidade tecnológica, a um custo econômico e social bastante elevado”, acrescenta.
PALAVRA DE ESTUDANTE E PESQUISADORA
DO POLO PARA O MUNDO
O professor Tércio Machado, que dirigiu o Polo de setembro de 2019 até maio último, também destaca como um dos mais importantes o projeto do simulador para estudo de patologias cardíacas, que foi desenvolvido em parceria com a empresa Algetec e, segundo ele, teve investimentos da ordem de R$ 400 mil. Tércio afirma que não há no mercado nenhum produto que atenda todas as simulações realizadas pelo equipamento desenvolvido no Polo. “Além de ser um projeto inovador, ele também dá apoio didático para as áreas de saúde de alguns campi do IFBA”. O ex-diretor do Polo explica que o dispositivo realiza “várias simulações” na área de patologias cardíacas e os campi do IFBA que têm cursos da área de saúde “serão contemplados” com esse simulador.
Para o professor Handerson Leite (foto ao lado), primeiro diretor do Polo de Inovação, função que exerceu até setembro de 2019, o projeto do simulador é “um dos mais importantes” desenvolvidos pela unidade. “Apresentamos o simulador na Reditec [em 2018] e fomos classificados entre as principais inovações para representar o Brasil no fórum mundial [Congresso da Federação Mundial de Colleges e Politécnicos], que naquele ano se realizava na Austrália”.Handerson destaca também o primeiro projeto desenvolvido no Polo, uma luminária com controle de foco eletrônico, desenvolvida “para a empresa Barrfab” [Barrfab Indústria Comércio Importação e Exportação de Equipamento Hospitalares Ltda], uma empresa do interior do Rio Grande do Sul. Ele se refere ao projeto Foco Cirúrgico em LED com campo luminoso controlado eletronicamente, coordenado pelo professor Hugo Antônio Nunes Silva.
“Esse projeto é bastante importante e interessante do ponto de vista tecnológico porque ele muda a tecnologia das luminárias cirúrgicas e por ter sido o primeiro projeto, a gente conseguiu vê-lo no mercado”. Segundo ele foi “um grande orgulho” ver a primeira versão do produto – “não mais o protótipo” – ser demonstrada e comercializada na maior feira hospitalar da América Latina e a segunda maior do mundo, em São Paulo.
PERSPECTIVAS DE FUTURO
Na Bahia, há demandas nas áreas de produção mineral, agricultura, nas áreas de resíduos minerais e de materiais. O IFBA conta com professores(as) doutores(as) e mestres que desenvolvem pesquisas em várias áreas, fator que aumenta o potencial de atuação da infraestrutura do Polo para atender a parte dessas demandas.
O diretor pro tempore do Polo de Inovação, Juliano Lopes, ressalta que em outras cadeias produtivas existe uma série de demandas, “como na área de energia, onde o IFBA atua em algumas unidades”. Ele afirma que “no primeiro semestre atravessando a crise, a energia solar cresceu 120% no setor rural”, ao enfatizar que o Brasil é uma das maiores potências em geração de energia solar do mundo. “No entanto, temos no País apenas dois fabricantes de baterias e nove de módulos fotovoltaicos para esses sistemas”. Juliano lembra que o IFBA tem grande capilaridade, tem cursos, projetos e “muitos profissionais formados e atuantes nessa área, que podem ajudar a gerar tecnologia e inovação, e o Polo é um ambiente propício para esse tipo de ação”.
NOVA DIREÇÃO
A escolha do(a) novo(a) diretor(a) do Polo de Inovação é uma das pautas quando o assunto é futuro da unidade. Diferentemente do que acontece no processo que precede a definição sobre quem será o(a) titular da Direção Geral de cada campus do IFBA, escolhido(a) a partir do voto direto da comunidade, o(a) diretor(a) do Polo é escolhido a partir da busca ativa, conforme determina a Portaria n° 37, de 29 de outubro de 2015, da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec/MEC).
“Os Polos de Inovação serão dirigidos por Diretores, nomeados pelo Reitor, considerando lista tríplice organizada a partir de processo de busca ativa a ser realizado pelo Conselho Superior do Instituto Federal”, estabelece o Art. 8 do documento.
Após a formação da lista tríplice, conforme define a Portaria da Setec, a decisão sobre qual dos(as) três candidatos(as) assumirá a Direção do Polo de Inovação cabe ao(à) reitor(a) do Instituto ao qual a unidade especial está vinculada. No caso do IFBA, a prerrogativa de decidir quem assumirá o cargo é da reitora Luzia Mota.
É de competência exclusiva do Consup deflagrar o processo de busca ativa para organização da lista tríplice de candidatos(as) ao cargo de diretor(a), além de definir “a metodologia de seleção e os requisitos específicos para a candidatura, bem como constituir comitê para coordenar o processo de seleção”, determina a Setec/MEC. O processo será deflagrado em reunião do Conselho Superior em data a ser confirmada.
O INÍCIO
O Polo entrou em funcionamento efetivo em 2016, mas formalmente existia desde 2015, quando o projeto apresentado pelo IFBA à Chamada Pública 02/2014 da Embrapii foi selecionado. “Dos 20 projetos que foram apresentados, apenas cinco foram credenciados e nós estávamos entre esses cinco, estávamos aprovados entre os primeiros”, conta Handerson Leite, que coordenou o processo de construção do projeto apresentado à Embrapii. O Ministério da Educação autorizou o funcionamento do Polo do IFBA por meio da Portaria nº 819, de 17 de agosto de 2015, que também autorizou a operação das outras quatro unidades especiais de Polos de Inovação da Rede Federal selecionadas pela Embrapii.
Na sua avaliação, “o Polo não foi uma dádiva do MEC”. O projeto do IFBA passou por “um processo muito rigoroso de avaliação”, que envolveu visitas técnicas e análises da Embrapii. A entidade credenciadora “ponderou” que o espaço inicialmente previsto para a instalação da unidade no Campus Salvador não era o suficiente, avaliação com a qual, segundo Handerson, a equipe do IFBA concordou. “A gente viu que realmente a questão do espaço era crítica e nós começamos a buscar um novo espaço, que foi o Parque Tecnológico”, cuja cessão de uso foi concedida pelo Governo do Estado. A adequação do espaço, a compra de móveis e equipamentos foram realizados e em setembro de 2016 o Polo de Inovação entrou efetivamente em operação. “Daí porque consideramos essa data [setembro de 2016] como a data de início do Polo”, conclui.
FICHA TÉCNICA
Fotos: Acervo do Polo de Inovação e acervos pessoais
Pesquisa e colaboração: Gisele Paixão (Comunicação do Polo de Inovação)
Programação visual: Isabel Mudo (Comunicação do Polo de Inovação)
Texto: Bárbara Souza (DGCOM)