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Estudantes do IFBA são aprovados em programas de intercâmbio nos EUA e Canadá
“Uma imersão por completo em outra cultura: lógica de pensamento, espaço, língua, clima, alimentação, escola, arte, religião, políticas de convivência… é um mundo inteiro de novas apreensões”. É assim que a pedagoga do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), campus Jacobina, Indaiara Silva, classifica a experiência do intercâmbio, que será vivida, no início de 2021, pelos estudantes João Vitor Caetano, Jórdean Amaro, Matheus Bahia e Ramon Novais. Os jovens viram em duas chamadas públicas lançadas pela Assessoria de Relações Internacionais (Arinter), uma oportunidade de crescimento. A partir daí, investiram no sonho e conquistaram a aprovação nos programas Community College Initiative, da embaixada dos EUA, e Futuros Líderes das Américas (ELAP), do Canadá.
“Não podia deixar passar a oportunidade, assim que abriu a seleção me inscrevi porque acreditava que mesmo que não possuísse todas as habilidades deveria tentar”, conta o estudante de engenharia industrial mecânica do campus Salvador, João Vitor. Para o jovem - que já participou de uma visita técnica e cultural na Alemanha, quando estava no curso integrado -, o intercâmbio é “algo imperdível e que agrega um conhecimento que não se acha em nenhum outro lugar”. Entre os possíveis benefícios da experiência, ele cita: “adquirir a proficiência na língua inglesa, conhecer novas culturas, desenvolver habilidades pessoais, criar novos contatos e aprender muita coisa nova e sobre outra perspectiva”.
Apesar das possíveis diferenças no ensino em outros países em comparação ao Brasil, Indaiara - que é mestra em Educação e diversidade, especialista em Educação e relações étnico-raciais e tem habilitação em Orientação educacional – afirma que somente a língua pode ser um obstáculo para aprendizagem dos estudantes. “Nossas (os) estudantes têm acesso antecipado e diferenciado a diversas metodologias e abordagens de ensino por meio do tripé ensino/pesquisa/extensão, o que as (os) habilita a construir os esquemas cognitivos necessários para se adaptar a práticas de ensino de diferentes abordagens. Além disso, é preciso pensarmos que em um intercâmbio acadêmico realizado em instituições educativas de outros países, nossos estudantes vão ter oportunidades de ensinar a outras pessoas, dentro da lógica das experiências de aprendizagem vividas no Brasil e no IFBA, o que gera aprendizagens para a comunidade acadêmica das instituições que os recebem”, considera.
João e Jórdean estão entre os três brasileiros selecionados para o programa do governo dos EUA que oferece uma bolsa que cobre todas as despesas básicas de entrada e residência no país durante o período do programa, suporte a vistos J-1, custos com viagens, estadia e variedade de atividades de desenvolvimento pessoal e profissional. Os estudantes passarão cinco meses no país, a partir de janeiro, estudando nas suas áreas de atuação em um Community College, uma modalidade de ensino superior dos EUA. Inicialmente, o programa era desenvolvido no período de dez meses, porém, com o advento da pandemia da Covid-19, houve a redução do período de estudos.
Jórdean, que cursa engenharia elétrica no campus Vitória da Conquista e escolheu um curso na área de engenharia aplicada, com área de concentração em robótica, lembra que, desde o início do curso sonhava em fazer intercâmbio. “No 1º semestre eu vi a mesma oportunidade, mas como eu estava no início, não tinha muita carga horária para me inscrever e ser selecionado. Sempre foi um sonho meu fazer intercâmbio porque é algo único”, enfatiza.
Assim como a experiência cultural, Jórdean enumera os benefícios que o intercâmbio pode trazer também em níveis profissionais. “Para minha carreira essa experiência vai ser imprescindível. Vou poder enriquecer meu currículo profissional, além de aprimorar meus conhecimentos na área de estudos que eu quero, bem como minhas habilidades de comunicação, liderança, enfim, de elementos relacionados ao meu desenvolvimento pessoal. Além disso, estarei em contato com diferentes culturas de diferentes países, aprendendo costumes diferentes e desenvolvendo habilidades que talvez aqui eu não conseguisse”.
Assim como Jórdean, Matheus aposta no intercâmbio como um diferencial para o profissional que pretende se tornar, mas não só isso. “Sempre acreditei que o estudante precisa buscar atividades e experiências que o diferenciassem e contribuíssem para sua formação, tanto quanto pessoa quanto como profissional. Desde meu primeiro semestre no IFBA eu me envolvi em atividades extracurriculares com esse fim; ano passado eu fui selecionado para uma visita técnica e cultural à Alemanha e República Tcheca em outro programa do IFBA e, definitivamente, foi uma das experiências mais engrandecedoras que tive, pela imersão cultural, que expande totalmente seu horizonte, e pelos aprendizados técnicos, que são únicos. Enxerguei que o intercâmbio é uma chance única de crescimento pessoal, independência e desenvolvimento de uma língua estrangeira, que hoje todas as empresas buscam. Então, quando soube da chamada para o ELAP, enxerguei no programa uma oportunidade para continuar meu desenvolvimento e consolidar o perfil de liderança que busco”, ressalta.
Matheus é estudante de engenharia mecânica no campus Salvador e estudará, durante quatro meses, a partir de janeiro, ao lado de Ramon, no College of the Rockies, instituição parceira do IFBA. A bolsa cobre os custos com passagens aéreas, alimentação, estadia, seguro saúde, livros e materiais escolares. “No College, optei por matérias que desenvolvessem habilidades interpessoais, de negócios e humanas, os chamados Soft Skills, enxergando que esses são pontos que, no geral no Brasil, são poucos explorados pelos colégios e universidades, mas extremamente importantes para o desenvolvimento de qualquer pessoa”, explica Matheus.
Para Matheus, há através dessa oportunidade um ganho tanto para estudantes quanto para a instituição. “A troca entre as culturas é um caminho de quebrarmos alguns paradigmas, estereótipos e aprendermos uns com os outros. Os conhecimentos obtidos podem e devem ser usados em prol do desenvolvimento da própria instituição e da nossa sociedade. Não a toa é um programa de incentivo à formação de jovens lideranças. Quando pensamos no impacto em cadeia que essas iniciativas podem ter, o valor é inestimável”, realça.
Ramon, que cursa engenharia química no campus Salvador já está preparando todos os detalhes para a vivência no Canadá. “No momento, estou aguardando a emissão do visto, mas também já li bastante sobre o clima, o tipo adequado de roupas para frio e como aplicar para a residência estudantil. Por estarmos em um momento delicado com relação à pandemia da Covid-19, o primeiro passo fundamental realmente é a estadia, pois o governo do Canadá exige um período de quarentena de 14 dias para pessoas que estão chegando de viagem, mesmo que não apresentem os sintomas”, informa. O estudante se inscreveu para o curso “University Science” com o foco em Química, que, segundo Ramon, possui matérias semelhantes ao seu curso no IFBA. As aulas serão realizadas de maneira presencial e online, em função da pandemia.
Segundo Indaiara, as questões relacionais ligadas aos afetos também devem ser observadas pelos intercambistas. “É preciso preparo emocional para vivências novas. Alongamentos, jogos corporais, atividades de relaxamento e meditação e conversas com profissionais e pessoas em quem se confia sobre os medos e as expectativas em relação à viagem são altamente indicadas. De qualquer sorte, um intercâmbio acadêmico pressupõe desejo de conhecimento e investimento afetivo. O que, por sua vez, pressupõe querer lançar-se na aventura do novo. O novo, assim, torna-se um acontecimento para a/o sujeita/o, porque além de ampliar visões de mundo e aprofundar conhecimentos específicos, amplia reconhecimentos, fortalece pertenças, faz crescer a autoestima e o bem estar de quem vive experiências como essas”, frisa.
Desafios da mobilidade no IFBA - O histórico de mobilidade do IFBA começa em 2005, a partir de alguns convênios com os EUA e tem maior regularidade em 2009, após a implantação da Arinter. Segundo a assessoria, atualmente, quase 400 estudantes já participaram dos programas de mobilidade internacional, sendo mais de 50% deles ofertados com recursos próprios da Instituição. “Nosso pico, é claro, foi no período do “Ciência sem Fronteiras”, entre 2012 e 2015, mas mesmo antes e depois desse programa, temos ações interessantes envolvendo a mobilidade discente em programas de curta e média duração”, informa a coordenadora da Arinter, Paula Oliveira.
A mobilidade internacional é uma das linhas de ação previstas no Plano de Desenvolvimento da Internacionalização do IFBA (PDInter), aprovado em 2019 pelo Conselho Superior (Consup). “O PDInter vislumbra várias modalidades de intercâmbio, mas reconhece também a existência de uma discrepância na participação dos campi do interior, por exemplo, ou dos estudantes das licenciaturas, nos programas de mobilidade. Pensando nisso, foi desenvolvido um projeto para criação de um programa institucional e multicampi para mobilidade acadêmica estudantil do IFBA. Infelizmente, por conta dos cortes de recursos que temos sofrido, não há previsão para a implementação desse programa. Por isso esses programas externos de bolsas são importantes e estou sempre na busca por aumentar as vagas para indicação ou de trazer outros programas como o Pearson Scholarship da Universidade de Toronto que foi lançado este mês. Nossa perspectiva da mobilidade Internacional vai além do deslocamento físico ou até mesmo do aprendizado de línguas estrangeiras, mas reconhece o potencial formativo da experiência internacional por meio da troca de conhecimentos, técnicas, culturas, etc, e do reconhecimento de si, de seu lugar e de seu papel no mundo”, pontua.
Indaiara, que desenvolve pesquisa e projetos de extensão em educação das relações de gênero, com recortes de raça e sexualidade, lembra que “o impacto que gera transformação não é apenas de ordem pessoal ou cognitiva, mas, principalmente, social, visto que esses estudantes não teriam a oportunidade de viver essas experiências sem a confluência das intenções das políticas educacionais das instituições envolvidas”. E, dialogando com as preocupações da Arinter em relação à equidade na participação de estudantes nos programas, Indaiara considera que “constitui-se desafio institucional do IFBA desenvolver políticas educacionais específicas para estudantes egressas (os) de escola pública e que possam gerar equidade de classe, raça, gênero, sexualidade, contemplar pessoas com necessidades educacionais específicas, bem como que se voltem para o interior do estado e não apenas para Salvador. A não representatividade equitativa de pessoas de grupos historicamente excluídos que possam viver, com êxito, as experiências acadêmicas consideradas de prestígio social, revelam as exclusões estruturais que as instituições públicas educativas precisam enfrentar para serem realmente inclusivas”, conclui.