Você está aqui: Página Inicial > Notícias > 2019 > Fotos > Palestra sobre o suicídio fecha a campanha do Setembro Amarelo na Reitoria
conteúdo

Palestra sobre o suicídio fecha a campanha do Setembro Amarelo na Reitoria

Ouvir atentamente, sem julgar nem dar conselhos, e oferecer ajuda é a melhor forma de prevenção, diz a psicanalista Soraya Carvalho
por Aurelio Nunes publicado: 30/09/2019 11h45, última modificação: 30/09/2019 11h45

A psicanalista Soraya Carvalho
A psicanalista Soraya Carvalho
Trazer para dentro das escolas o debate franco e aberto sobre o tema que responde pela segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos em todo o mundo. Abordar a questão sem tabus ou preconceitos. Ser capaz de ouvir atentamente e sem julgamentos as pessoas próximas em situação de risco.

Estas foram algumas das principais abordagens da "Palestra Sobre o Suicídio - Quando a Dor de Existir não pode mais ser silenciada e a importância da posvenção nas unidades de ensino", ministrada pela psicóloga e psicanalista Soraya Carvalho na Sala do CONSUP, na tarde desta sexta-feira, 27.

O bate-papo da coordenadora do Núcleo Estadual de Prevenção ao Suicídio (NEPS) com os servidores marcou o encerramento da campanha do Setembro Amarelo na Reitoria do IFBA, que contou ainda com a "Palestra Participativa sobre Mindfulness, um caminho para a redução do stress e uma melhor qualidade de vida", com a especialista em terapia analítico-comportamental Ana Martha Lima. Ambos os encontros foram mediados pela psicóloga Ludmila Passos, servidora do DQUAV/DGP.

“O suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial, em que a morte é vista como única saída diante de um quadro de profunda desesperança ou desilusão. Trata-se de um comportamento exclusivamente humano, presente em todas as culturas, com registros que remontam à antiguidade. O suicídio não tem raça, crença, gênero, faixa etária; não escolhe cor, religião ou conta bancária. Mas pode ser evitado”, destacou Soraya Carvalho.

“Se você vê que a pessoa está deprimida, chegue junto. Mas não incentive, não dê conselho, não diga que a vida é bela ou que o que ela tem é frescura, pois estas coisas só fazem a pessoa se sentir mais culpada por se sentir daquela forma. Apenas ouça com atenção e pergunte se você pode fazer algo”, ensinou a psicanalista.

Soraya Carvalho e Ludmila Passos
A psicóloga Ludmila Passos mediou o encontro de Soraya Carvalho com os servidores da Reitoria do IFBA
HISTÓRICO - O suicídio era socialmente bem aceito até o ano 533 D.C., quando, sob influência de Santo Agostinho, o Concílio de Orleans proibiu que se prestassem honras fúnebres a todo aquele que se matasse quando sob a acusação de ter cometido algum crime. Diante do poder da Igreja sobre o Estado, o que era um pecado passou a ser considerado também um crime passível de punição com o confisco dos bens da família do suicida e a proibição de que o enterro fosse realizado dentro dos muros da cidade.

“Estes valores medievais contaminam até hoje o nosso olhar. O suicídio virou um estigma que desafia a lógica capitalista, contraria as leis cristãs e subverte a ordem médica. Não é mais considerado um crime pelo Estado, mas continua sendo punido sem compaixão pela sociedade, pois todo suicida é tachado de infame ou de insano”, opinou.

Soraya alertou para a necessidade de evitar definições simplistas como “isso é falta de fé” ou “foi um ato de covardia”, ou mesmo “um gesto de coragem”. Explicações geradas pela desinformação, que não ajudam a compreensão e muito menos contribuem para estancar o crescimento acelerado da taxa de suicídios em nosso país, que na registrou aumento de 7% em entre 2010 e 2016, na contramão do índice global, que teve um decréscimo de 9,8%. “O suicídio mata mais que a AIDS e o câncer juntos no Brasil”, argumentou.

Para desmitificar o assunto, a especialista trouxe ao debate dados impactantes: a maior parte das pessoas que tentam se suicidar estavam com transtornos mentais decorrentes de depressão, mas apenas de 15 a 20 por cento dos deprimidos graves se suicidam; para cada suicídio são registradas de 10 a 20 tentativas; metade dos que cometeram suicídio, já tentaram ao menos uma vez; as profissões que mais registram suicídio são os médicos e os policiais.

Abandono e abuso sexual na infância são fortes fatores externos de predisposição, assim como impulsividade, baixa tolerância à frustração e doenças mentais são fatores internos. Há também fatores sócio-culturais, como a discriminação racial e homofóbica, que responde por parte da alta taxa de suicídios entre negros e a população LGBT.

Isolamento, agressividade, tristeza profunda, uso de álcool e drogas como anestésicos para a dor e automutilação enquanto estratégia de transferência da dor da alma para o corpo físico são alguns comportamentos que podem indicar uma propensão suicida. Redes familiares, escolares e sociais de apoio fortalecidas constituem-se em fatores protetores.

SOBREVIVENTES - Soraya lembra que um dos grupos de risco do suicídio é justamente o dos sobreviventes. O conceito de sobrevivente, que outrora se restringia a pessoas que tentavam, mas não conseguiam se suicidar foi ampliado para todas aquelas pessoas afetadas por um suicídio e que acabam desenvolvendo um sentimento de culpa, revolta ou impotência diante da situação: família, amigos, testemunhas do evento, médicos, psicólogos, socorristas que realizaram o atendimento e, inclusive, colegas de trabalho ou de escola.

“Conversar sobre o assunto é a melhor maneira de fazer a posvenção, que é a prevenção aos sobreviventes”, completou a palestrante.