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"Abril dos Povos Originários" reúne comunidade institucional e convidados em torno do debate sobre história e resistência indígenas

por Verusa Pinho publicado: 19/04/2023 10h35, última modificação: 19/04/2023 10h58

Na manhã desta quarta-feira, 19, o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do Campus Jacobina do IFBA iniciou as atividades Abril dos Povos Originários.

O evento consistiu em roda de conversa sobre histórias e resistências dos povos indígenas do Brasil, com as professoras convidadas Jamile da Silva Lima-Payayá, doutora em  geografia e fundadora do Movimento Plurinacional Wayrakuna, rede ancestral artístico-filosófica, e Cláudia Vasconcelos, doutora em estudos de cultura. Ambas atuam na Universidade do Estado da Bahia (Uneb).

Na sua fala, Cláudia destacou a invisibilidade dos povos indígenas, através de interação com a plateia, projeção de slides e exibição de vídeo com foco nas produções de artistas indígenas. Ao questionar o público presente, a convidada perguntou acerca do conhecimento de etnias no Brasil e pontuou: "Meu lugar de fala é de uma mulher branca, que vem da roça, e está em processo de reconhecimento de sua ancestralidade. Sabemos que a apropriação cultural ainda é um uso delicado em nosso país, então falo enquanto professora de história, que descobriu, no doutorado, essas questões", explicou.

Coordenadora do projeto de pesquisa e extensão Arribar o Céu: artes, saberes e histórias dos sertões indígenas e afro-brasileiros, a docente desenvolve estudos pensando o Brasil através das artes. "A história do nosso povo preto e indígena não foi contada como deveria; não aprendemos a ler o que esses povos 'escreveram'. É preciso acessar as histórias escondidas e acredito que o melhor caminho seja pelas artes; aprender a ler outras fontes históricas para além da escrita", disse. 

Realizado em parceria com outros professores da Uneb, Campus IV, incluindo Jamile Payayá, o Arribar o Céu é fruto do doutorado da docente, que se emocionou ao relatar detalhes da iniciativa no diálogo com sua trajetória de vida. "A ciência e a escola precisam fazer sentido pra gente!", pontuou.

Em seguida, a geógrafa Jamile compartilhou sua luta no processo de reconhecimento da ancestralidade Payayá: "Eu estava pesquisando a etnia e me descobri no meio do processo. Fui batizada pelo cacique Juvenal, que lidera a terra Payayá em Utinga, ao qual agradeço imensamente. Sofri muito preconceito  devido aos cabelos cacheados e acessórios que costumo usar [a exemplo do cocar], inclusive no ambiente universitário. Aos poucos, passei a compreender as lendas e os rituais do meu povo, os saberes ancestrais, como o uso medicinal e sagrado das plantas, e o sentido do grande espírito da terra", explicou.

Durante sua participação, Jamile ainda elencou a origem de algumas palavras, como Yayá, matriarca que tinha seu nome associado à árvore gameleira, principal responsável pelo reconhecimento dos remanescentes Payayá na recuperação de seus territórios e tradições. O conceito de caatinga, assim chamada por uma narrativa colonial, devido à dificuldade de exploração da região, também foi mencionado pela pesquisadora. "É preciso refletir 'quem somos nós?!?' Eu sou essa pessoa: da roça, da caatinga, baiana, mulher e indígena!", concluiu.

Ao longo do mês, ainda haverá cine-debate. Acompanhe nossos canais e fique por dentro das novidades.